O que se deu dos indígenas que sobreviveram à chegada dos portugueses [Indígenas p. 5]

O que se deu dos indígenas que sobreviveram à chegada dos portugueses [Indígenas p. 5]

Série de artigos em homenagem aos Povos Indígenas Brasileiros. Índice:

  1. Como era a vida dos indígenas antes de 1500
  2. Cultura guerreira dos nativos brasileiros
  3. A invasão portuguesa de 1500
  4. As batalhas entre indígenas e portugueses após o 1500
  5. O que se deu dos indígenas que sobreviveram à chegada dos portugueses (este) 

Como já expliquei nesta série, os nativos brasileiros acabaram derrotados durante a invasão portuguesa principalmente por causa da alta mortalidade das doenças que chegaram nas naus. Fossem eles infectados de forma proposital ou não, 90% morreram adoecidos.

E depois disso?

Antes de qualquer coisa, é bom lembrar que os indígenas brasileiros não estiveram distribuídos no território de forma aleatória, nem viviam, como hoje, frequentemente, em lugares remotos. Como qualquer ocupação humana, a tendência era a concentração perto da praia e ao longo dos rios. Sendo assim, os lugares com mais gente foram os primeiros aos quais os portugueses chegaram e também onde rebentaram as primeiras epidemias.

Muitos indígenas que escaparam das guerras, das doenças e da escravização fugiram continente adentro em grupos pequenos ou grandes, gerando movimentos migratórios intensos rumo ao interior. No caminho, às vezes se uniam a indígenas que encontravam, ou com eles guerreavam pelo controle da área. Só que o furor português, partindo do litoral, não tardava a alcançá-los outra vez, e os nativos tinham que migrar de novo. Em muitas partes, terminaram cercados por fazendas e cidades, e já não havia mais para onde ir. Expulsos das terras mais férteis e com a constante degradação ambiental, a mais recente onda de migração dos indígenas é para as cidades brasileiras, em busca de meio de sobrevivência.

Assim, em termos bem gerais, a história dos últimos 5 séculos, do ponto de vista de boa parte dos indígenas, costuma ser a da extinção ou a de migrações periódicas. Os indígenas que hoje sobrevivem frequentemente não vivem no território dos seus ancestrais e são a conjunção de duas ou mais culturas que em algum momento se encontraram. Sem a capacidade de revidar militarmente, a resistência passou a ser através dos tribunais, da opinião pública e da manutenção intencional de determinados costumes.

Só que, contra um povo enfraquecido e espalhado, os massacres se tornaram cada vez mais sistemáticos por parte das autoridades portuguesas e, depois, brasileiras.
Temos vários e vários registros de infecção proposital contra povos indígenas para levá-los à extinção. Já em 1574, o governador do Rio de Janeiro mandou trouxas de roupas contaminadas com varíola para os nativos que viviam na atual região da Lagoa Rodrigo de Freitas. Com a aldeia extinta, foi construído ali um grande engenho público para produção de açúcar. Outro exemplo é o caso de 1818, quando os Timbira foram atraídos para a vila de Caxias, no Maranhão, e lá colocados em convívio com portadores de varíola. A tragédia assolou aldeias num raio de 1800 quilômetros. Em 1967, os Pataxós, na Baía, viram aviões lançarem brinquedos do céu, parecendo presentes para as crianças, só que eram brinquedos infectados com varíola, sarampo e gripe. As terras esvaziadas teriam sido distribuídas para criminosos do garimpo e da mineração, assim como figurões do governo militar. No começo de 2023, vimos as fotos das crianças Yanomami, raquíticas, lembrando judeus em campos de concentração. O mais recente fator do genocídio foi a contaminação dos rios por mercúrio, usado no garimpo.

Louvemos os povos indígenas, que, mesmo com tantos desenlaces, seguem resistindo contra uma guerra de conquista que nunca foi interrompida.

Esta série de artigos é a minha homenagem para o Dia Nacional dos Povos Indígenas, neste 19 de abril.

Acredito que precisamos lembrar dos heróis do passado e do presente, contar as histórias que, como povo, deveríamos conhecer. Além de importante, é simplesmente fascinante. O maior apoio que pode me dar é conhecer o meu trabalho aqui e aqui.

Se você acha que esta mensagem merece ser vista por aí, não deixa de compartilhar.

 
 

Viktor Waewell

Autor best-seller de ficção histórica, escreveu "Guerra dos Mil Povos" e "Novo Mundo em Chamas". Também contribui para portais e jornais pelo Brasil e atua no audiovisual como roteirista e diretor de vídeo.

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15 dias atrás

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